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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Gestão dos problemas, da desordem e incapacidade. São Paulo precisa de um articulador, não de um político-torcedor

O que acontece com o São Paulo nesta temporada causa espanto aos torcedores e aos profissionais da comunicação. O Tricolor teve sempre em seu currículo a postura correta dos salários em dia, do comportamento asseado dos dirigentes. Não significa que tudo era certinho. Mas quando algo acontecia no interior da instituição, os sábios conseguiam fazer uma manipulação para que nada fosse vazado à mídia. A intimidade ocorria.

Hoje, tudo se transformou. Políticos decidiram embarcar nessa viagem do futebol, e assumiram postos que não têm cabimento algum. A crise política e econômica vazam a todo momento. E o balcão de negócios da gestão Aidar é muito perceptível.

Salários atrasados, insatisfação, desempenho não é dos melhores. Todos os fatores citados atrapalham dentro das quatro linhas. Mas olhar apenas para o que acontece dentro do campo é não compreender a gravidade da situação que o clube passa.

Crise política, debates e uma tremenda bagunça dentro de campo já foram vividos na década 2000. E o São Paulo conseguiu se reerguer, quando a cúpula elegeu Marcelo Portugal Gouvêa. O presidente recolocou o Tricolor Paulista no seu devido lugar: numa competição de Libertadores, chegando à semifinal, em 2004, e conquistando o torneio em 2005; e em 2006, o clube faturou o Campeão Brasileiro.

Seu sucessor foi Juvenal Juvêncio. A princípio, o novo gestor manteve a político e o termo de compromisso e responsabilidade que fora da gestão passada. Infelizmente, em 2008, devida à fraca saúde, Portugal Gouvêa faleceu. E a derrocada do Tricolor começou.


São Paulo não ganha um título desde 2012, ano em que faturou o título inédito da Copa Sul-Americana, após vencer o Tigres-ARG. O último Campeonato Brasileiro foi conquistado em 2008. Nos últimos três anos, a história chega a ser irrisória, repleta de tropeços e vexames. Derrota para a Ponte Preta, Penapolense, Bragantino e, recentemente, pela Copa do Brasil, para o Ceará.

Os rivais Corinthians e Palmeiras foram comandados por verdadeiros coronéis. Sem preparo administrativo nenhum, Alberto Dualib e Mustafá Contursi afundaram, respectivamente, suas instituições. E vale aqui citar o Vasco, de Eurico Miranda. Um dos personagens mais tristes e escabrosos da história do futebol.

Cartolas boquirrotos, vendetas e acertos de bastidores. Discórdia era coisa de segundos para jorrar na mídia e causar debates polêmicos. A parceria do Corinthians com o MSI trouxe ilusões, um título e muitas dívidas.

E o São Paulo assistia de camarote a debandada dos rivais. Conquistava vitórias imponentes, contratava jogadores de alto nível. Conquistou o Mundial de Clubes, em 2005, contra o poderoso Liverpool, de Gerrard. E a provocação rolava solto.

Quem poderia imaginar que o São Paulo de 2015 vive a época do coronelismo de 1980 ou 2005. Após a saída de Muricy Ramalho, Milton Cruz segurou as pontas até onde pôde. Numa cartada de Ataíde Gil Guerreiro, veio Juan Carlos Osorio. Técnico pouco conhecido no cenário do futebol. Mas que foi eleito entre os 50 melhores do Mundo.

A proposta de Carlos Miguel Aidar convenceu Osorio a comandar o São Paulo. Vitórias consecutivas, um novo estilo de jogar, Michel Bastos sendo o destaque, fatores que apontaram o treinador colombiano como um revolucionário. Porém, aos poucos, o elenco foi se desmanchando. Rafael Toloi, zagueiro, foi o oitavo atleta a deixar o clube depois da chegada de Osorio, somando um valor de R$ 53,4 milhões em vendas. E a dívida ainda permanece.


A venda exacerbada, o problema técnico de alguns jogadores, a divisão da cúpula do clube. Tudo isso causou chateação no pobre "profe". A sua saída é questão de tempo, embora ele tenha apoio do grupo. Mas o problema maior está em Carlos Miguel Aidar, que derrotou Juvenal Juvêncio na eleição passada.

Os presidentes dos clubes brasileiros não pensam no negócio, investimento, valorização dos atletas e torcedores. Estão mais preocupados em se eleger. São mais políticos. Nem mesmo a criação de um novo pacote de Sócio-Torcedores foi suficiente para que a crise amenizasse e causasse um sentimento de gratidão na torcida.

Viagens para diretores e conselheiros, com passagens, hospedagens e carros com motorista. Pacotes para namoradas e filhas. Tudo na conta do clube. E o planejamento foi para o ralo.

Como sair dessa crise? Quem vai presidir o Tricolor com seriedade e profissionalismo, sem atacar clubes rivais? Marco Aurélio Cunha decidiu se afastar do clube, e se dirigiu ao futebol feminino.

A gestão de Aidar termina em 2017. Muito tranquilo, disse que até o fim do seu mandato tudo estará em ordem. "Eu não tenho nenhuma preocupação com impeachment, minha consciência está absolutamente tranquila. Até 2017, as finanças estarão equilibradas e alguns títulos já terão sido conquistados", garantiu o presidente em entrevista à Rádio Jovem Pan.

Paulistão e Libertadores já são passado. Copa do Brasil ainda é uma realidade, porém o Tricolor nunca conquistou esse campeonato. Brasileirão é queda livre. Brigará por uma vaga na Sul-Americana, e olhe lá.

Gestão dos problemas, da desordem, da falta de capacidade. São Paulo precisa urgentemente de um articulador, como o Ganso deveria ser. Precisa de um cara ofensivo, mas com responsabilidade, como Luís Fabiano poderia render. Precisa de um cara íntegro e que saiba administrar as contas. Esse é o caso do zagueiro Luis Eduardo.

Quem deve estar chateado até ao âmago pela ofensa à instituição é Marcelo Portugal Gouvêa, que de cima vê um inferno no clube de tantas glórias.

O torcedor são-paulino já viu isso acontecer com os adversários. Riu, fez piadas, esnobou e se divertiu com o desfecho. Porém teme que os rivais façam o mesmo. É o feitiço virando contra o feiticeiro?

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